Parecer profissional sobre a Tabela da Adegraf de Valores para design e ilustração publicada em 2011: ruim.
A tempos discutimos nas listas a necessidade, ou não, de uma tabela de valores referenciais para profissionais do design, webdesign e ilustração. Um dos maiores entraves para criação desta, reside no fato de que não podemos, legalmente, obrigar este ou aquele valor aos profissionais e artistas do mercado publicitário e editorial. É a livre concorrência.
Mas a falta de profissionalismo e, ou, ética de poucos, arriscava a depreciação gradativa de nossos trabalhos. Como fazer o cliente entender a diferença entre uma marca criada por um profissional qualificado e as "marcas a atacado" oferecidas por inúmeros picaretas na Internet? Em meio aos acalorados debates haviam até mesmo aqueles que diziam que "um cliente que coloca a imagem institucional de sua empresa nas mãos de um amador merece o estrago...".
Assim, nos unimos, por exemplo, na ABIPRO (Associação Brasileira de Ilustradores Profissionais), e na SIB (Sociedade de Ilustradores Brasileiros) e formulamos as malfadadas "tabelinhas de valores" para design e ilustração. Mas, cuidado...
Um cuidado que tivemos ao elaborar tais tabelas, foi deixar bem claro, claríssimo, que o que rege o custo de design e ilustração é o uso. Arte, design, imagem, foto, ilustração é, por força da lei, licenciada. E os termos desta licença tem de ser transcritos em contrato de Direitos Autorias.
Ou seja: não é no número de cores, o formato, o número de palavras, o tipo de papel... que irá nortear os custos. Mas sim fatores como: área de abrangência (nacional, regional, local...), mídia (TV, rádio, impressos, Internet, outdoors...), o prazo (um mês, uma edição, um ano, cinco anos, com possibilidade de renovação, ou não...), a exclusividade (exclusivo, exclusivo para um tipo de mídia, exclusivo por N anos...).
Cores e formatos irão aumentar os custos da gráfica, do digitador, do diagramador... que já não são regidos por direitos autorais, e sim pela lei de prestação de serviços. Que ao seu modo, também protege quem pratica estas atividades.
Voltando a Tabela da Adegraf:
Essa tabela aí é um crime à categoria. Só para citar ilustração. Ilustração não se vende, se licencia. Segundo lei federal estabelecida – a LDA. O que determina o valor final NÃO é o tamanho, nem a digitação! Mas o uso! (região, mídias, ...). É o beabá do mercado de uso de arte.
Curioso notar o baixo valor proporcional que a ADEGRAF atribui à capa de livro.
Qualquer um que trabalhos com publicidade, por exemplo, sabe que a localização de determinada "mensagem" (e aí pode ser a imagem de uma capa, para cativar o leitor) é fator de valorização da mesma. Uma mesma imagem valerá mais se ao invés de entrar no miolo, ir figurar na capa do exemplar impresso. A tabela sugere que seja o dobro, como se fosse uma simples página dupla, e pior, incluindo o trabalho de preparo para impressão. Ressalto porém, que essa é uma que veio da SIB. Então: feio, SIB, feio.
Pior ainda foi a "recomendação" para os novatos darem descontos. Uma boa peça de um novato, visando distribuição nacional pode e deve custar bem mais caro do que uma peça tosca de um veterano que só irá cobrir um curto espaço de tempo a nível regional.
Desculpe-me a ADEGRAF, mas que pisada na bola.
Mais uma vez: o que determina o preço do licenciamento, é prazo, região, mídia. Nunca a quantidade de anos que o profissional tem nas costas. Conheço vários veteranos que após 20 ou 30 anos de trabalho, ainda amargam a concorrência dos novatos que acham que estão na vantagem cobrando trocados por algo que vale na casa dos milhares. Na vã ilusão de que um dia poderão cobrar decentemente. Mentira. Ao cobrar tão pouco, ele viciam o cliente num patamar irreal de valores, inviável para o desenvolvimento de suas carreiras. Na hora que acordam, já perderam o cliente para outro incauto, que orientado pela ADEGRAF, baixou "só mais um pouquinho" o seu preço.
Antes que discordem, é óbvio que a fama trará clientes. Clientes maiores, com interesse em projetos de grande abrangência, portanto mais valorosos. Fama reverte em valores melhores por conta de captar grandes parceiros, e também porque a partir do momento em que se tem uma agenda cheia, pode-se optar por aqueles que oferecem os melhores valores e contratos. É exatamente o que fiz depois de alguns anos de ilustradora atuante. Passei a descartar quem chegasse com contrato oneroso, ou valores irreais para o tipo de licenciamento requisitado.
Observo ainda que a tabela da SIB, que a ADEGRAF usou para referência de valores pra ilustração, tem como base que PRAZO e REGIAO (ou seja, USO) coisa que a ADEGRAF simplesmente cortou da tabela original. Avisem a SIB, por favor, do mal uso de seu material. A retirada desta informação altera radicalmente a visão sobre a natureza de nossas produções.
Quem não souber licenciar, irá dançar.
Veja na SIB:
Aproveita e visita a
AEILIJ.
Uma última observação que tenho a fazer é que, sendo regida pela LDA – Lei dos Direitos Autorais, não sendo, portanto, uma prestação de serviço, a ilustração depende, mais que tudo, dos critérios do artista. Tenho colegas, que atingiram tal nível de excelência em sua arte e que, dispondo de recursos extras para seu sustento, agora se dedicam apenas aos projetos que lhe cativam. Entre eles, os nomes que fazem da ilustração brasileira uma belíssima arte mundialmente apreciada.
Cuide bem de seus licenciamentos. Diferente do que ocorre com outras artes, a ilustração pode ser adequada aos mais diferentes suportes. A cada novo uso, ela vira um produto diferente, e a arte volta a gerar lucros e empregos. Entendam isso e conseguirão uma carreira de sucesso. Exemplo atual de quem sabe gerir bem a carreira: Romero Brito, Ziraldo, Maurício de Souza e um exército de ilustradores que mesmo tendo menor fama, sabem gerenciar bem o uso de suas artes, e se manter ativos no mercado sem precisar de outras fontes de renda.
Esta deveria ser a meta de todo artista visual comercial. A busca da excelência, junto ao seu cliente.