sexta-feira, março 18, 2011

Arte: quem decide é o público.

(Estudo para capa. Obra publicada pela Editora Geração, em 2011)



Quem (ou o quê) afinal é o vilão na falta de acesso a arte por parte do público em geral? Nós (artistas) queremos, ó óbvio, que o acesso seja total!

Numa resposta a um blogueiro, eu tentei mostrar que a culpa pelo preço e dificuldade de acesso nunca é do autor. Mesmo casos extremos, onde algum herdeiro não libera a obra, é algo raríssimo, e só chama a atenção quando é com algum famoso. Aqui no Brasil lembro de dois casos: Cartola e Monteiro Lobato.

O caso do Lobato, só deu a confusão que deu, porque o próprio Lobato quis que toda sua obra ficasse cedida integralmente à Editora Brasiliense. Não previra que assim conseguiria o oposto do que queria! A Editora foi comprada, a família já não queria concordar com os tratamentos dados...

No meu limitadíssimo ponto de vista, me parece que o alto custo do acesso está no preço das estruturas necessárias pra levar a arte ao público. No caso da Internet essa estrutura é a tecnologia montada pra que o usuário acesse a rede. Esse custo é alto, se o usuário tiver de pagar o provedor, a linha telefônica, o minimodem...

Em shows, peças de teatro, cinema, o custo é a estrutura, os profissionais contratados. 
E no caso dos livros... esse já poderia ser resolvido já!

Já devem ter visto aqui na lista eu e outras pessoas denunciando que no preço que você paga em um livro - chamado preço de capa - o custo do autor não passa de 10%. Pode até ser menor, visto que vai depender unicamente do acordo entre autor e investidor (o editor).

Os outros 90% são engolidos por custo de editoração (uns 20%), gráfica (uns 50%) e distribuição e venda (40%).

Esses 40% ficam pra livraria (que às vezes dividem com distribuidor) sem que ela precise arriscar nenhum capital. Se o livro não vende, ela devolve o produto e quem engole sozinho o prejuízo é o editor. A gráfica já está paga e o autor pode simplesmente esperar acabar o contrato e levar o texto/imagem pra outro editor.

Em grande redes é "normal" que a parte do livreiro seja de 70% a 80%. Repito: sem o menor risco! Isso é uma aberração dentro do sistema capitalista. A parte maior deve sempre ficar com que assume o maior risco! No caso o editor. 

O correto seria o editor ter pelo menos 50% na mão. Isso, e apenas isso já baratearia o preço do livro.

O livro fica caro porque o editor tem de recuperar com o mínimo de vendas o seu investimento! Isso também impede que os editores possam dar adiantamentos aos escritores, que dificilmente conseguem se dedicar a sua arte sem ter um emprego paralelo. Menor dedicação, menor qualidade. Bolsas prêmios quebram o galho mas são uma ajuda limitada e contaminada pelo gosto do juri.

O que baratearia o livro já está à nossa disposição:

- venda direta;
- parceria com livraria onde a parte seria de no máximo 30% pro revendedor;
- ebooks (quando possível, economiza os 30% da impressão).
- mais compradores, tiragem/downloads maiores! Isso então, pode colocar o valor em até um décimo do original! Ou seja: quanto maior o acesso do público, mais barato fica!


Entretanto, vimos a acesso a Internet (paga) crescer exponencialmente e os valores dos provedores continuarem altos!


Reestruturar esse mercado ajudaria a reduzir custos. 
Não simpatizo muito com patrocínios diretos intermediados pelo governo, porque temo que vire arte panfletária. E a liberdade artística é essencial pra cidadania.

Melhor, e certo, é que o público pague pouco (o preço justo) e PRINCIPALMENTE que o público tenha salários dignos, que o tornem livre pra escolher no quê quer gastar o dinheiro!

Reduzir a desigualdade social aqui no Brasil é essencial se queremos avançar. Mas não há vontade política para tal.

Abs,
Thais Linhares

2 comentários:

Leka disse...

Thais, sabe q sou sua admiradora e respeito muitíssimo seu ponto de vista de ilustradora experiente e neste post só acrescentaria um item: incluir arte nas escolas = ensinar as crianças a gostar (entender para gostar) de artes visuais, estórias, músicas.... nosso público é reduzido também porque os brasileiros são analfabetos funcionais; para escolher entre comprar um livro ou uma camiseta como presente temos que conhecer os dois; Então, acho que não é só por conta de custos que o acesso à artes é baixo. beijos.

Thais Linhares disse...

Sim... e a forma como nosso país trata a educação está a comprometer toda essa geração. Ainda não consigo entender porque os professores TEM DE TER salários tão baixos. Só posso acreditar que é fruto de uma política maquiavélica. Não que apenas tornar os salários dignos vá resolver, porque ainda faltaria o investimento no acesso (imagina as crianças que atravessam quilômetros a pé pra chegar na escola!) no equipamento (já vimos "salas de aula" que nem parede tem!!!) e verdadeira democratização (com a população sempre junto, o país do futebol também pode ser o país do saber).

Beijão, vivas pra você, na sua batalha!