– Eu vivo disso, por quê? Algum problema?
Resposta ao blog do Bruno, que deprecia Ana Hollanda em:
Bruno, deixe-me colocar aqui a observação de uma autora que sustenta sua família unicamente com base nos meus ganhos com direitos autorais pelo uso da obras que eu crio.
Não há o menor sentido no que colocou.
As novas tecnologias, finalmente, trouxe a oportunidade não só de nos divulgarmos e lucrar diretamente com nossa arte, como foi responsável pela criação de uma grande rede de contatos que usamos pra orientar autores de todo o país em como elaborar bons contratos.
em minha área, as mudanças a favor do autor foram radicais, com reflexo imediatos na qualidade das relações com editores.
Sabe quanto o autor ganha na capa de um livro? 10%, e se não pudermos contar com a proteção da lei..? Será 0%.
Isso ocorre porque as livrarias ficam com 50% até 80% do valor! E sequer participam do risco. Quem mais arrisca é o editor, que investe capital e know-how, e se o livro não vende, engole o prejuízo.
Com a pirataria na rede, vi livro de amiga minha se downloadeado em mais de 5.000 exemplares, que é maior do que a tiragem usual de um livro. Resultado: o editor não quer mais re-editar! Pra que?
O problema não é com a Lei dos DAs, que não é a mais draconiana do mundo, e só não teve sucesso (no passado) em proteger melhor o autor porque vivíamos o isolamento típico do criador e a ignorância de nossos próprios direitos! Foi apenas nos últimos anos que começamos a criar jurisprudência em conseguir anulação de contratos leoninos. E se a uns 10 anos atrás um escritor ou ilustrador que peitasse um contrato leonino ficava "queimado no mercado", hoje, inverteu-se a situação. Agora o difícil é achar uma editora que não procure elaborar contratos justos e atraentes! Tudo graças a um trabalho exaustivo de conscientização e união dos próprios autores.
Três, agora grandes, associações só de autores, orientam gratuitamente os novatos, pra que iniciem seu relacionamento com o mercado. Isso já alterou até mesmo nossos critérios de qualidade, dando um verdadeiro empurrão em direção a uma produção de excelência na cultura!
Ainda quanto a questão dos 70 anos pros herdeiros... Entenda que outros patrimônios de natureza igualmente lucrativas... não caem em domínio público JAMAIS!!! Meus filhos, se tiverem sorte e souberem investir em reeditar minhas artes, poderão por 70 anos receber. Tenho cuidado bem de meus contratos pra garantir que eles tenham essa benesse, e não algum banco de imagens malandro. Depois, eles perdem esse direito que vira patrimônio da humanidade. Esse tipo de benefício ao público SÓ OCORRE COM OS DIREITOS AUTORAIS E PATENTES! E essa é a herança que deixarei, daquilo que eu fiz na solidão do meu ateliê, aos meus filhos. Em meu caso, que não sou famosa, apenas migalhas. Mas... se todo mundo quer ganhar com minha arte... porque não minha família?
Cuidado ao jogar num mesmo saco, todos os tipos de arte. Cada campo há um processo diferente! Não tenho nada a ver com o ECAD, e acho absurdo que as leis privilegiem o monopolio pra um escritório de arrecadação. Vivo com medo que colegas meus, desavisados, apoiem a criação de mostruosidade similar que arrecada no uso de textos e imagens, como o AUTVIS está tentando fazer! Pra acabar com o ECAD, basta quebrar seu monopolio e só permitindo que administre as obras que ele contratar junto aos autores.
No mercado do livro, o vilão é o custo de colocação de venda... algo que vai mudar! Porque agora qualquer autor e editor pode vender via site! Temos tudo pra melhor isso aí. Imagine comprar um livro onde só se precise pagar os 10% do autor e os 20% do trabalho da editora? Todo livro cairia seu preço pra 1/3 do que é pago. Na verdade, cairia muito mais, porque ao invés de ter de recuperar o investimento em 3.000/5.000 exemplares, a gente estaria vendendo 10.000...50,000... e poderíamos amortizar o nosso custo autor em muitos, e muitos downloads!
Isso tudo irá por água abaixo se cortarem nossos direitos! E NÃO VAI BARATEAR O ACESSO, por que o custo maior desse NÃO Ë REFERENTE AOS NOSSOS MÏSEROS PORCENTOS! E sim ao custo de uso da tecnologia! Não se iluda! Nada que vem pela Internet é gratuito, paga-se em algum ponto da corrente. E rompeu-se o elo mais fraco e justo o de menor participação, OS AUTORES!
PS.
Sabe porque a pirataria é crime?
Por que é injusto que sicrano e beltrano ganhe com a obra do autor sem sequer lhe repasser os tostões que cobririam o custo de criação.
Não culpem os autores pelas insatisfações com aqueles que vieram lucrando com nosso trabalho. Mude-se o sistema para que os intermediários não prejudiquem nem público nem criador. Vocês estão indo no pescoço mais frágil, porque é mais fácil.
As majors lidam com lucro, com capital. Se não puderem mais ganhar dinheiro explorando a arte, simplesmente irão investir em outro lugar... na tecnologia de rede por exemplo, onde continuarão a ganhar com o conteúdo dos artistas... mas agora sem pagar nada!
Se quer combater o "inimigo" deve-se tentar pensar com a cabeça do inimigo... mas antes de tudo, saber indentificá-lo corretamente.
Não somos nós os autores (em nosso direito autoral) a prejudicar ninguém!