O que irei escrever aqui não é um julgamento sobre as pessoas que sofreram abusos.
Eu farei um pequena observação sobre criar filhos, disparada pelo anúncio de que o terceiro escolhido pra ministro da educação bolsonarista tem como estratégia didática a dor, ou sem eufemismos: covardemente torturar indefesos, uma pedagogia Ustra.
Temo só de pensar quem determinará os limites das violações sobre as crianças. Alguém como o pai do menino Bernardo? – Veja em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Bernardo_Boldrini.
Em meu universo de convivência – que é circulando entre algumas bolhas bem distintas – eu vi pessoas seguras e bem resolvidas emocionalmente. Estas pessoas, via de regra, vinham de famílias onde o respeito mútuo é prática banal. Aliada a um fluxo livre de afeto e proteção. E, mais uma vez, a proteção jamais viola os limites do respeito. Darei exemplos mais adiante aqui no texto.
Nestas famílias não se usa a dor, o medo e a violência como forma de educar. Há constância no cuidado. É previsível para a criança que elas achará segurança emocional e física, mesmo quando errar, as muitas vezes que precisará errar, pra aprender.
Não se usa o erro/acerto como moeda de troca pra o amor dos pais. O medo, no caso, é ligado a consequência real do erro, e não a uma punição que inibe novos aprendizados.
Eu vi pessoas inseguras, reativas, muito mal resolvidas emocionalmente. Aqui, o comum é ter vindo de uma família onde a violação de limites, a violência física e moral (humilhar, culpar, chantagem emocional, abandono e negação das necessidades) é a regra. Os filhos são cobrados como que devendo às vontades dos pais, e ensinados a não focarem no que eles realmente querem, ao ponto de sequer terem a chance de entrar em contato com os próprios sentimentos. Ou viram apáticos, ou abusadores (dois lados da mesma moeda de quem teve o ego detonado em família).
Os pais e professores que educam violando uma criança, estão ensinando a ela que é "bom" violar e o que é mais trágico: que Amor tem cara de dor, solidão moral, medo e agressão.
Imagina então o que será a vida pessoal e profissional deste cidadão. Imagina que tipo de político ele votará pra cuidar de seus direitos, se esse cidadão sequer aprendeu que tem direito natural a estar bem, em paz e sem medo?
E eu vi algo que me dá arrepios (bons) só que pensar aqui. Vi pessoas que apesar de terem sobrevivido a uma rotina de extremo abuso, dor e violações em sua infância, conseguiram os meios de compreender o que estava acontecendo, e se reconstruir, se tornando, sem dúvida, pessoas mais que especiais: pessoas que tendo sofrido os piores danos, hoje se tornaram muito sensíveis e conscientes das fragilidades humanas e de como podemos e devemos respeitá-las e protege-las. Tenho amigas e amigos assim. E como os amo e admiro. Tento ser como elas e eles, dentro de meus limites que são modestos.
Tenho um profundo amor por estas pessoas – tendo superado ou não.
E como prometi lá no topo, exemplos, ainda "leves" de violações de limites na educação das crianças:
– ler seu diário / mensagens privadas / invadir sua privacidade
– forçar a barra pra que se vista e use cabelo de acordo com o gosto dos cuidadores (deixe o punk/emo/que seja, em paz!)
– não respeitar os interesses, curiosidades, escolhas pessoais, fazendo piada, desmerecendo
Tem mais. Mas agora vou colocar aqui exemplos de boas práticas:
– unir discurso e prática. Dê o exemplo do que considera legal aplicando. Quer que estudem? Seja estudioso, e se essa não é sua prática, seja dedicado aquilo de bom que vc faz: seu trabalho, seu projeto, suas amizades, seu cuidado pessoal com alimentação, higiene, organização
– seja atencioso. Pare o que está fazendo e escute a criança, ajude, e se não puder ajudar por estar acima de seus poderes, seja claro e honesto sobre isso também, e busque a melhor forma de resolver. Gosto do lema: "façamos o melhor possível com aquilo que temos"
– seja aberto pra conhecer o universo das vivências delas. Que artistas gostam, seus jogos, amigas e amigos, livros e gibis amados. Garanto que vai se amarrar. Muita arte sensacional é feita hoje em dia. Não seja o chato do: "antigamente era melhor...blábláblá!"Seja o bacana que divide com elas suas referências. A meninada se amarra em bandas dos anos 90, filmes do 80 e HQs dos 60!
Devemos sempre proteger as crianças.
Mas ninguém nasce sabendo.
Querem completar com suas ideias?
Como imagina que é a forma ideal de cuidar das crianças?