domingo, janeiro 13, 2019

90%



Um escritor, um ilustrador, o compositor de uma música, poetas... recebem em média 10% sobre os ganhos provenientes de suas criação.
Isso quer dizer quem quando um autor cria algo, pra cada 100 dinheiros que é levantado, ele fica com 10 dinheiros e vão os demais 90 dinheiros para movimentar a economia do país.
Ainda assim, agora já no século XXI, vemos aflorar do lodo da estupidez, uma ideia fruto do mais raso sendo comum: a de que artistas são "vagabundos", e pior, "parasitas" da sociedade.
O setor econômico que movimentamos é o envolve produção e difusão de Cultura, Educação e Ciências. Três pilares sobre os quais toda a sociedade é montada e a partir daí se estrutura os demais caminhos de infra-estrutura, consumo, influências.
Carregamos sobre nosso trabalho setores comerciais – livrarias, e-comerce, publicidade, influência no consumo de produtos de todas as áreas – e industriais – gráficas, fábricas de produtos diversos, inovações tecnológicas – e até do agronegócio – no caso do livro especificamente o plantio de eucaliptos pra papel, insumos pra hábitos de consumo indicados por ideias difundidas pela cultura.
É notório que quanto maior o desenvolvimento de um país, mais forte é o setor cultural e também que quanto mais forte é o setor cultural, mais desenvolvido e autônomo economicamente é um país.
Países de poucos recursos naturais, e até bem pequenos em extensão, tem em sua indústria cultural uma vantagem que lhes coloca com ganhos bem acima de países naturalmente riquíssimos mas que menosprezam (politicamente) a cultura e seus autores nacionais.
Estou vivendo pra ver o Brasil mergulhar no obscurantismo. Ver artistas serem difamados e museus fechados. Livreiros virarem foco de resistência onde deveria ser de descontração. Palavras são distorcidas, o desentendimento é proposital.
Somos chamados de vagabundos e parasitas por hordas de ignorantes que nem piscam ao acatar os discursos falsos de lideranças cujo comportamento em nada se diferencia do de psicopatas.
Ao mesmo tempo, sob o olhar de todos, líderes "religiosos" e "gurus" são descobertos como sendo estupradores e pedófilos.
Nunca houve em toda história da humanidade um único caso de assédio a crianças em um museu. Artistas fazem tudo à luz, às claras. Mas enquanto imbecis distorcem e retiram de contexto para depois atacar e violentar artistas e autores em geral, crianças estão sendo de fato estupradas dentro de salas fechadas, banheiros de líderes "espirituais", e quando tentam denunciar são mais atacadas ainda!
Tempos difíceis que só se tornaram padrão por conta da censura à arte e ao sufocamento da cultura, seja pelo viés da economia, tornando impossíveis quem quiser investir de o fazer tranquilamente, e aqui falo da Lei Rouanet – responsável por praticamente todas as mais importantes iniciativas culturais e educativas que aconteceram nos últimos anos – como pelo viés da mais pura e covarde violência de fato, com palhaços sendo presos por policiais ao fazer performance de crítica à truculência e corrupção do Estado, apedrejamento de funcionárias de museus, passeata com xingamentos a autoras internacionais de vem palestrar em instituições privadas.
O Brasil virou alvo dos olhares internacionais – antes era visto com admiração, sua imagem vendia nossa arte e produtos, seções de autores nacionais eram abertas e louvadas na Europa. Agora, somos vergonha. Nossos livros esquecidos, setores de estudos fechados. O nome Brasil passa de honrado ao um selo maldito que agora representa obscurantismo e horror.
Quando se criminaliza e mata a arte, não são os "vagabundos" ou "parasitas" dos autores os que mais perdem. Eles ficam só com 10% do lucro que geram na economia. Os outros 90% era pro país.

Tenho medo do que virá aí.

Imagem: história em quadrinhos "Colagem", feita para o querido amigo, professor e artista plástico, Luiz Fernando Perazzo. Que tirou a própria vida ainda antes desta loucura toda nos dominar. Imagino o que ele falaria destas dores e horrores.

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