sábado, novembro 08, 2014
Seresteiro
Avaré...
Santuário navegando um bosque.
Guiava os mortos de Avaré ao outro lado, até que um dia virou anjo também.
Os trens se foram, deixando sozinha a velha estação.
Ela ainda espera que eles voltem para buscá-la.
***
Ainda não fomos apresentadas, eu e Avaré.
Então fiz essas imagens por telepatia mesmo.
Mas o caboclo aí embaixo eu conheci
em proximidade de prosa.
***
Mansinha começando o estudo das linhas do seresteiro.
Viver é preciso, desenhar é impreciso
acasos que desguiam o traço.
Minhas linhas não tem rumo marcado
tão perdidas em multiespaço.
Por isso não fique assim surpreso
se perceber que não acerto retas.
Que nessa vida que cobra acerto
sem querer apaguei minhas setas.
É desafio se equilibrar nas cordas em dezena
escalar com os dedos o seu braço forte
delisar suave sobre a sua barriga morena.
Descendo em doce curvatura, sul ao norte.
E desenhar uma viola caipira
fazendo música em pintura.
Daí que aproveitei os estudos da arte da viola
para uma das cenas do novo livro que estou
produzindo pras crianças desse Brasilzão.
Fiz braço, barriga, curva – parece às vezes
que estou dançando com o lápis no papel.
Mas ainda falta algo sem o que a música
não pode escalar até as estrelas: as dez cordas.
Colocarei amanhã de noite quando subir a alfa de Órion.
E aí ouvir a voz da viola, o som do violeiro.
Enquanto isso, mais estudos.
Seresteiro em sépia:
Vai sair coisa boa daí!
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