Faz já alguns anos, ocorreu um longo e acalorado debate na lista de discussão da AEILIJ onde ilustradores defendiam o fato de que são autores. Houve quem ficasse zangado com isso. Não queria de forma alguma reconhecer o carater autoral dos criadores das imagens... mas logo se desfez o mal-entendido – estes estavam a pensar que os ilustradores requisitavam para si a autoria do texto!
O que causou o engano foi como colocamos: nós, ilustradores, somos autores do livro. E alguns usavam logo o termo: co-autores do livro.
Sim, somos autores, também, do livro que o leitor pesca na prateleira. Portanto, dentro do livro, objeto de fruição estética e informativa, somos co-autores.
Assim, sempre que um editor me contacta avisando que logo haverá a festa de lançamento do livro onde eu, co-autora, criei as imagens que cobrem cada uma das páginas do mesmo, eu sinto um frio na barriga, uma expectativa negativa do que está por vir, e, infelizmente, meu ataque de Cassandra costuma se confirmar.
Invariavelmente o nome do ilustrador, meu nome, autora da imagens do livro para crianças, onde as imagens raramente compõem menos de 50% da arte apresentada, vem miúdo, em corpo bem menor que o do autor do texto, que o nome da editora, às vezes até mesmo do que o local do evento! Outras vezes nem mesmo aparece, em flagrante delito, visto que a Lei dos Direitos Autorais torna obrigatório que se credite as obras artísticas.
Já teve caso que eu nem sequer ser avisada do lançamento, e nunca fui consultada sobre qual seria a data e local mais conveniente para mim, coisa que sei que ocorre com o escritor, já que também tenho obras publicadas como escritora.
Em lançamento recente, fui chamada mas deixada longe da mesa de autógrafos, o que de certa forma causou desconforto aos leitores que vieram pedir pelos meus autografos-desenhados, já que eu tive de fazer isso de pé apoiando o livro nos braços deles.
Não se trata de orgulho ou pedantismo, aliás, eu não me importo de ampliar a autoria do livro a quem de fato o torna possível, como o designer e editor (aqui querendo dizer o nome da pessoa física responsável pela editoria, que é o agregador de todos os talentos envolvidos!) e quem mais tiver seu talento valorizando a obra pronta.
Trata-se de ser justo e de valorizar o livro, valorizando os talentos presentes.
Por favor, não diminuam a importância do trabalho do ilustrador.
Sobretudo em livros ilustrados para crianças.
Não é preciso muito: basta manter o mesmo corpo de letra para os autores de texto e imagem, lembrar de consultar ambos sobre o lançamento e, claro, chamar o ilustrador para que também autografe e até mesmo para uma performance – as crianças amam!!!
Lançamento com arte é super atraente para as crianças, que já dominam o traço muito antes de aprenderem a ler, e adoram ver um adulto interagindo graficamente com a criatividade delas! E os adultos pedem sempre para que eu faça um rápido desenho, que eu chamo de ilustrautógrafo, por vezes transformado numa caricatura divertida da criança que receberá o livro. Sucesso total, valorização do livro – TODOS ganham quando cada um é reconhecido!
Fica a dica.